Resenha do Filme - Diário de Um Adolescente

O filme "Diário de Um Adolescente", lançado em 1995, narra a história real de um adolescente norte-americano. Assim sendo, através dessa narrativa, pode-se conhecer um pouco mais sobre a história de Jim Caroll, e sua conturbada adolescência.

            Desse modo, o filme também aborda questões pertinentes ao período da adolescência. Como por exemplo, a tendência que os adolescentes tem de preferir a companhia de amigos, realizando assim um movimento de busca de relações extrafamiliares. As primeiras relações sexuais e amorosas também fazem parte desse movimento, indicando que os objetos primários de amor - como mãe e pai - estão sendo substituídos por outros "objetos". Além disso, novos projetos de vida surgem na vida do adolescente, como a escolha da profissão e a inserção no mercado de trabalho. Nesse cenário, a família permanece em segundo plano para o adolescente.

O protagonista do filme, de fato, aparece, a maior parte do tempo, na companhia de seus amigos. No inicio da narrativa, sua atenção se encontrava voltada para as suas experiências sexuais, bem como para o seu interesse no basquete. Além disso, ele tinha um diário, que utilizava para escrever poesias. Na vida adulta, Jim de fato torna-se um escritor e poeta.

Porém, esse processo de passagem para a vida adulta, que acontecia de forma espontânea se interrompeu, depois que o melhor amigo do protagonista falece devido um câncer. Depois disso, o adolescente inicia um uso abusivo de drogas, tornando-se um dependente químico. Pode-se dizer assim que a perda do amigo tornou-se um trauma inominável para esse adolescente, um luto que não podia ser elaborado. Esse luto se soma então a outros lutos vivenciados por este adolescente, comuns do período da adolescência, entre eles, a perda do corpo infantil. Diante de tamanho sofrimento, ele paralisa o seu processo de desenvolvimento emocional. O protagonista começa a utilizar drogas como um meio de aliviar a sua dor, não é mais a pulsão de vida que se encontra em curso, mas sim a pulsão de morte.

Nesse processo, a família do protagonista surge em cena, também desamparada, não conseguindo conter as angustias frente à sua dor. No filme, aparece apenas a mãe do adolescente, que não conseguindo acolher a demanda de sofrimento do filho, julga-o pelos seus atos, por fim, expulsando-o de casa.

Cabe dizer que o protagonista também busca apoio de pessoas da comunidade, entre eles, integrantes de sua escola. Porém, percebe-se que seu sofrimento, novamente, não pode ser acolhido. O professor de basquete julga o adolescente pelo uso de drogas, inclusive utilizando-se de sua fragilidade para tentar abusá-lo sexualmente em troca de dinheiro. O adolescente ainda procura “confessar seus pecados” a um padre, buscando um adulto que possa escutá-lo e orientá-lo. Infelizmente, a escuta do padre se mostra apenas operativa, resumindo-se a prescrição de alguns pai-nosso e ave-maria.

Por fim, o protagonista se encontra desamparado, sem suporte da família e da comunidade. Seus amigos tão frágeis quanto ele, também se tornam dependentes químicos. Para sustentar a sua dependência, o adolescente torna-se ladrão, por vezes, prostitui-se, colocando-se em situações de risco. É possível que uma fragilidade psíquica latente e um ambiente familiar-comunitário deficitário contribuíram para o aparecimento de uma patologia psíquica tão grave, como apresentada no filme. A morte do melhor amigo mostrou-se um fator desencadeante, porém não pode ser visto como motivo único do seu adoecimento.

Todavia, o filme mostra que acontece uma reviravolta na vida desse adolescente, que consegue interromper esse circulo vicioso e retomar alguns de seus projetos de vida. Ele torna-se escritor, resgatando sua potência de vida, através da parte criativa e saudável de sua personalidade. Nesse sentido, cabe aqui apontar que alguns dos amigos do protagonista permanecem utilizando drogas, não conseguindo encontrar outros meios para lidar com seu sofrimento. Questão que me faz pensar que a criatividade deste adolescente pode ter sido o fator que contribui para a interrupção do seu circuito de autodestruição. 


Trabalho desenvolvido durante o curso de pós-graduação, no Seminário de Técnica da Adolescência.