No Ocidente, a tatuagem foi introduzida
por viajantes e marinheiros no século XVIII, que seduzidos por esta arte
“exótica” praticada por distintos povos aborígines, começaram a tatuar seus
próprios corpos. Posteriormente, no século XIX e no início do século XX,
"setores ditos marginais" da sociedade (como presidiários, meretrizes
e soldados) apropriaram-se da tatuagem. A passagem por esse tipo de universo
social fez com que a tatuagem começasse a ser identificada como marca de
marginalidade, atuando como estigma social. Em meados do século XX, tribos
urbanas, como roqueiros, motoqueiros, hippies, punks e skins, foram
apropriando-se desse imaginário, adotando a tatuagem como uma marca corporal
através da qual ostentavam publicamente sua vontade de romperem com as regras
sociais e de situarem-se deliberadamente à margem da própria sociedade.
Na contemporaneidade, a tatuagem adquire novas inscrições
simbólicas, não sendo mais identificada como marca de marginalidade. As
modificações corporais, entre elas a tatuagem, tornaram-se um fenômeno
cultural.
O culto ao corpo é de fato uma das características mais marcantes
da sociedade contemporânea. O corpo sendo um objeto de consumo, onde
substanciosos investimentos fazem as pessoas estarem em constante busca de uma
imagem ideal. Nessa constante valorização da imagem corporal, presenciamos a
proliferação dos procedimentos denominados “body art”. Neste contexto, a
tatuagem torna-se um dos meios utilizados para “embelezar” o corpo, tornando-o
socialmente mais belo.
Em contrapartida, a tatuagem também pode
“funcionar” como uma marca identificatória, ou seja, um meio de radicar no
próprio corpo a sua subjetividade. É através dessas marcas que o sujeito
inscreve no seu corpo algo que o diferencia do coletivo como as suas
experiências de vida, ou algo que o identifica com um grupo social como a
“tribo” a que pertence.
A prática de tatuar-se também pode
tornar-se uma forma pela qual os sujeitos buscam afirmar a sua singularidade.
Metaforicamente, a tatuagem pode ser pensada como um traço de memória – uma
“lembrança” singular de algo; uma memória que não sofre lapsos porque permanece
marcada para sempre no corpo.
Na sua subjetividade, o corpo está sempre
produzindo sentidos que representam a sua cultura e os seus desejos. Nesse
sentido, a prática da tatuagem se constrói entre o desfrute estético e a
possibilidade da invenção de um sentido singular para cada pessoa.
Referências:
- CALLIGARIS, Contardo. Crônicas do individualismo cotidiano. São Paulo: Ática, 1996.
- COSTA, Ana. A pele como mapa do outro. Correio da APPOA. Porto Alegre: nº 117, setembro de 2003.
- PAIM, Maria Cristina Chimelo; STREY, Marlene Neves. Corpos em metamorfose: um breve olhar sobre os corpos na história, e novas configurações de corpos na atualidade. Revista Digital: (http://www.efdeportes.com/efd79/corpos.htm). Buenos Aires: ano 10, n° 79, dezembro de 2004.
- PEREZ, Andrea Lissett. A identidade à flor da pele: etnografia da prática da tatuagem na contemporaneidade. Mana., Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, 2006.